domingo, 13 de junho de 2010

SER SOLITÁRIO...


Olho o mundo ao meu redor e parece que ninguém nunca está sozinho e se é verdade, acho que só eu realmente vejo o quanto estou só, mas vejo isso não em mim mas nos outros, vejo em esquinas, em parques, vejo nos carros estacionados perto das visões mais belas, vejo minha solidão na companhia de cada um na rua, sei que egoísmo mas me sinto só pelo simples fato dos outros não estarem sozinhos, e não sei se estou errado, mas me sinto ainda mais só quando outros estão perto de mim, mas ela não está.
No fim sei que sem ela sou apenas uma parcela de mim mesmo, parcela esta que nunca será um terço do que poderia ser, e mais uma vez preso a clichês e frases feitas afinal não existe um grande homem sem uma grande mulher... Não é assim que dizem? Pode até ser que seja exagero meu pensar assim, mas sinto que falta um pedaço de mim, e por mais que eu procure preencher essa falta, nada parece ter o tamanho certo, começo a entender um certo poetinha quando dizia que tinha tudo pra ser feliz, sim eu tenho e em ti bendigo a beleza das coisas simples, mas acontece que sou triste.. Acontece que sou triste...

E como o amor a tristeza também vem sempre acompanhada de mais e mais desgraças, sinto que atraio esse tipo de maldições e problemas pra mim, sinto que tem algo em mim que chama por tempestades enquanto meus olhos de bobo suplicam por um pouco de atenção meu coração vive em constante tormento com a minha própria natureza, será isso o ser meio homem meio Urso, será o Urso dentro de mim mostrando suas presas e clamando por toda a dor dos tempos onde todas as histórias eram suas assim como eram do Tigre e de todos os animais com grandes presas e sangue entre os dentes...
Ao menos uma vez queria ter as artimanhas da aranha com seu jogo de palavras e melodias enquanto canta o mundo com suas historias que são só suas... O animal e o homem em completa harmonia...

Mas por hora só a solidão me cabe...

SOLITÁRIO...


Não sou este nem o outro, algo de intermédio,
Desesperado então e procurando um remédio
Vasculho meu quarto na tentativa de conforto,
E quando me encontro vejo-me em novo porto.

Não sou de um lugar só, de uma única estação,
Sou um fiel seguidor, inflexível ao meu coração,
Por isso, ando de ponte em ponte, na aragem
Absorvida sub-repticiamente a cada passagem.

É o meu fado, o meu destino, andar sempre só,
Mas, creiam-me, quando vos digo, não tenho dó,
Pois é na procura constante que estão as riquezas.

E assim, de terra em terra, de mim sempre deixo,
O melhor que tenho para dar, e nunca me queixo,
Se comigo a sorte vã mais não deixa que tristezas.

DOMINGO...


Aos domingos as ruas estão desertas
e parecem mais largas.
Ausentaram-se os homens à procura
de outros novos cansaços que os descansem.
Seu livre arbítrio algremente os força
a fazerem o mesmo que fizeram
os outros que foram fazer o que eles fazem.
E assim as ruas ficaram mais largas,
o ar mais limpo, o sol mais descoberto.
Ficaram os bêbados com mais espaço para trocarem as pernas
e espetarem o ventre e alargarem os braços
no amplexo de amor que só eles conhecem.
O olhar aberto às largas perspectivas
difunde-se e trespassa
os sucessivos, transparentes planos.

Um cão vadio sem pressas e sem medos
fareja o contentor tombado no passeio.

É domingo.
E aos domingos as árvores crescem na cidade,
e os pássaros, julgando-se no campo, desfazem-se a cantar empoleirados nelas.
Tudo volta ao princípio.
E ao princípio o lixo do contentor cheira ao estrume das vacas
e o asfalto da rua corre sem sobressaltos por entre as pedras
levando consigo a imagem das flores amarelas do tojo,
enquanto o transeunte,
no deslumbramento do encontro inesperado,
eleva a mão e acena
para o passeio fronteiro onde não vai ninguém.