domingo, 27 de junho de 2010

AMIZADES...


Sabes o que eu faria contigo, agora,
Caso a vida me desse uma folga?
Diria-te: mira o teu ouvido nos martelos
E suas loucas investidas na bigorna.
Mostrava-te os passarinhos tão distantes,
...Aqueles que cantam soltos, e os tristes.
Que uns lhes chamam encantados,
E outros lhes chamam anjos
Que dedilham a lira e as estrelas, dançam.
Dir-te-ia que tudo isso é mudo e surdo
Mas perceptíveis à alma quieta
E de sentidos mais apurados.
Apontava-te o verde mais intenso, porões da mata.
Dos vales que eu nunca vou pisar.
E falava-te das minhas vontades
Aquelas mais desertas, além, além
As que eu quero tirar da minha visão
Que só farei quando aprender a voar.
Mostrava-te o retrato que me fala
Nas vezes que o procuro na gaveta,
Que a saudade é mesmo um castigo,
E condenados somos tantas vezes.
Mostrava-te um poema de Fernando Pessoa
Que ele fez, perdido dentro das pessoas.
E assina quietas, as venturas da lua,
E o que a gente escuta, que é Deus falando
A voz que a gente decifra quando quer.
Segredava-te baixo em teu ouvido,
E se acordasses te faria dormir de novo.
Mas a palavra lembrada em seu tempo
Eu me obrigaria a falar.
Falava-te do velho camponês,
Que guarda zeloso seu rebanho,
E veio o vento tão impetuoso
E não arrastou nem um do seu ganho.
Citava a contravenção do tempo
Levando escondido em seus bornais
Amizades que a gente pensa uma vida
Encontrar, gostar, pra depois separar
Ou cada vez mais se aproximar.

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